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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A falta de amor nas igrejas do século 21

Ao lado da mornidão espiritual, a falta de amor é uma das características marcantes dos tempos trabalhosos em que vivemos.

INTRODUÇÃO

- A falta de amor é a principal característica do mundo sem Deus e se alastrará, nos dias imediatamente anteriores à vinda do Senhor, por causa da multiplicação do pecado, invadindo os corações daqueles que um dia serviram a Deus.

- Deus é amor e é impossível que quem O sirva não tenha este mesmo amor, amor que se demonstra não só por palavras, mas, principalmente, por obras (I Jo.3:18).

I. OS QUATRO TIPOS DE AMOR

- Numa das mais sucintas, mas muito profundas, definições de Deus na Bíblia, o apóstolo João, que é chamado de “apóstolo do amor”, disse que Deus é amor (I Jo.4:8b). Em seu evangelho, João, que desfrutou como ninguém da intimidade com Jesus Cristo (cfr. Jo.14:23), deixou-nos, igualmente, a mais sucinta síntese do plano da salvação, no chamado “texto-áureo” da Bíblia. Nele, uma vez mais, o apóstolo mostra qual é a essência de Deus, ao nos dizer que “Deus AMOU o mundo de tal maneira” e, assim, nos enviou Seu Filho Jesus Cristo.

- Ora, se Deus é amor, como pode gerar filhos que não tenham o mesmo amor ? Como sabemos, os filhos têm a mesma herança dos seus pais. Jamais alguém que seja feito filho de Deus (Jo.1:12), que tenha sido gerado da água e do Espírito (Jo.3:5), que seja participante da natureza divina (II Pe.2:4), não tenha, pois, o amor divino. A prova de que alguém é, realmente, um filho de Deus está, precisamente, em ter este amor. Jesus deixou-nos isto muito claro ao dizer que Seus discípulos seriam reconhecidos pelo amor(Jo.15:12; I Jo.2:10,11; 3:10,11).

OBS: “…O caminho que ultrapassa a todos os dons e ao qual todos os membros da comunidades devem aspirar é o amor. ‘ Deus é amor’ ( I Jo. 4,8), Jesus é o enviado do amor (Jo. 3,16), e o centro do Evangelho é o mandamento do amor ( Mc 12,28-34), que sintetiza toda a vontade de Deus ( Rm. 13,8-10). O amor é a fonte de qualquer comportamento verdadeiramente humano, pois leva a pessoa a discernir as situações e a criar gestos oportunos, capazes de responder adequadamente aos problemas. Os outros dons dependem do amor, não podem substituí-lo, e sem ele nada significam. O amor é a força de Deus e também a força da pessoa aliada a Deus. É a fortaleza inexpugnável que sustenta o testemunho cristão, pois ‘ tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta’. O amor é eterno e transcende tempo e espaço, porque é a vida do próprio Deus, da qual o cristão já participa. É maior do que a fé e a esperança, que nele estão contidas.” (BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral, nota a I Co 13:1-13, p.1474).

- O amor mencionado nas Escrituras como sendo a essência divina é o chamado amor “agape”, assim denominado pela palavra grega utilizada em o Novo Testamento para esta espécie de amor. Com efeito, no grego, pelo menos quatro são as palavras usadas para “amor”, a saber:

a) “eros” – esta palavra não é encontrada em o Novo Testamento e vem de “Eros”, que era uma das divindades menores da mitologia grega (o “cupido” dos romanos). Este amor é o amor carnal, o instinto sexual, a atração física. Desta palavra grega temos palavras em português como “erotismo”, “erótico”, que bem descrevem a natureza deste amor. Este amor, de forma distorcida, é o difundido no mundo de hoje, dando origem a toda sorte de imoralidade e impureza sexual.

OBS: “…Nossa sociedade confunde o amor e a luxúria. Ao contrário da luxúria, o amor de Deus é dirigido exteriormente às outras pessoas, e não interiormente, a nós mesmos. É totalmente desinteressado. Esse tipo de amor é contrário às nossas inclinações naturais.…” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, nota a I Co.13:4-7, p.1802).

b) “filia” – esta palavra já é encontrada em o Novo Testamento(II Pe.1:7, “amor fraternal” na Versão Almeida e Corrigida). É o amor emocional, sentimental, decorrente de uma atitude de simpatia, de empatia, é a amizade. Este tipo de amor permite-nos gostar daquilo que nos agrada. É um amor que nasce do valor que damos ao ente amado. É o amor característico entre os seres humanos.

c) “ storge” – palavra que se encontra também em o Novo Testamento, ainda que como parte de palavras compostas (Rm.12:10, v.g.), é o amor existente entre pais e filhos, fruto da afeição parental, o amor mais sublime que existe entre os homens, como afirma o Senhor em Sua Palavra como vemos em Is.49:15 ou Is.66:13, ou quando considera a Deus como Pai.

d) “agape” – também se encontra esta palavra em o Novo Testamento. É a palavra utilizada todas as vezes em que se menciona um amor que tem como origem o próprio Deus, a começar do chamado ” texto áureo da Bíblia”. É um amor que não leva em consideração o valor do ente amado, que não se importa em satisfação própria, mas que tem prazer tão somente no benefício do ente amado.

OBS: João Ferreira de Almeida, o primeiro tradutor da Bíblia para a língua portuguesa, querendo manter a distinção entre “filéo” e “agape” do texto original grego, traduziu “filéo” por “amor” e “agape” por “caridade”. O uso da palavra “caridade” acabou causando alguma confusão, pois, através dos séculos(a Bíblia foi traduzida por Almeida no século XVII), a palavra “caridade” acabou adquirindo um outro significado, qual seja, o de ajuda aos pobres e necessitados, o de dar esmolas. Por causa disso, foi a palavra substituída na Versão Revista e Atualizada de Almeida e em outras traduções posteriores. De qualquer maneira, quem utiliza o texto da Versão Revista e Corrigida de Almeida, não pode se confundir: “caridade” no texto quer dizer “amor divino”, tanto assim que Paulo faz questão de dizer que “caridade” não é “dar esmola aos pobres” (cfr. I Co.13:3).

- O amor de Deus é diferente do amor que tem nascimento no homem. Como disse Jesus a Nicodemos, quem nasce de novo, nasce da água e do Espírito, não nasce da carne, ou seja, da natureza pecaminosa do homem. O homem é um ser sensível (embora, muitas vezes, o pecado esteja em estágio tão avançado que o homem se torna tão embrutecido que seja muito custoso encontrarmos alguma sensibilidade) e, como tal, ele chega a amar pela sua própria natureza. Mas este amor proveniente do homem, este amor que tem fruto na natureza pecaminosa do homem, não é o amor de que estamos aqui a falar. Este amor que nasce do homem é egocêntrico, ou seja, busca os seus próprios interesses. Amamos porque o ente amado nos faz bem, nos traz algum benefício. Amamos aquelas pessoas cuja companhia nos é agradável; amamos as coisas que nos trazem satisfação. Por isso, por exemplo, muitos amam o dinheiro, porque ele traz aos que o possuem coisas agradáveis, permitem a satisfação de suas necessidades. Quem busca a Deus única e exclusivamente para ter benefícios desta comunhão vive este amor humano. Ama a Deus porque Ele lhe proporciona saúde, riqueza, prosperidade, mas, se vierem as dificuldades, as lutas e as provações, estas pessoas deixam de amar o Senhor, precisamente porque este amor não é o verdadeiro amor divino, o amor “agape”, mas apenas um amor emocional, sentimental, nascido na natureza carnal.

- O amor proveniente de Deus, o amor peculiar à natureza divina é o amor que leva em consideração o outro, não a si próprio. Deus não ama o homem porque tenha o homem algum valor diante de Deus. O homem e toda a sua justiça, como bem descreveu o profeta, não passa de trapo de imundícia (Is.64:6). Diante do Senhor, o homem é como um vapor, é como a erva do campo (Tg.5:14; I Pe.1:24). Apesar disto tudo, Deus nos ama e nos quer bem a todo instante e, neste amor, humanizou-Se e Se fez maldito para nos proporcionar o restabelecimento da comunhão perdida por causa do pecado e, assim, tornar possível que voltemos a viver eternamente na Sua companhia !

- A busca e o desenvolvimento deste amor no nosso ser é o caminho a ser seguido pelo cristão. Formar Jesus em nós (cfr. Gl.4:9) nada mais é que conseguirmos amar como Jesus nos amou (Jo.15:9,10,12). Por isso, Paulo insistiu tanto com os coríntios para que trilhassem o caminho mais excelente, que é, precisamente, o da aquisição e prática do amor (I Co.12:31).

OBS: “…É impossível ter esse amor a menos que Deus nos ajude a colocar nossos próprios desejos naturais de lado, de forma que possamos amar a não esperar nada em troca. Desse modo, quanto mais nos tornarmos semelhantes a Cristo, mais amor mostraremos para com os outros.” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, nota a I Co.13.4-7, p.1602).

- É preciso ter amor para ser filho de Deus(I Jo.4:7) e, por isso, o amor é o pressuposto, é o elemento primeiro e indispensável para que alguém seja um cristão e possa ser um vaso de bênçãos nas mãos do Senhor. O verdadeiro fruto do Espírito Santo, portanto, o resultado do novo nascimento outro não é senão a criação do amor divino no homem e a sua demonstração aos semelhantes e a todo o Universo. Por isso é bem elucidativo o título de nossa lição: o fruto do Espírito é o amor.

OBS: “… O essencial na autêntica fé cristã é o amor segundo uma ética que não prejudique o próximo e que persevere na lealdade a Cristo e à Sua Palavra.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a I Co.13:4-7, p.1761).

- Recentemente, em sua primeira encíclica, denominada “Deus caritas est” (em latim, “Deus é amor”), o chefe da Igreja Romana, o papa Bento XVI, defendeu a tese de que amor de Deus é, a um só tempo, “eros” e “agape”. Entendendo que o verdadeiro “eros” não é o amor puramente sensual que se torna em motivador da prostituição e do decaimento moral, o chefe da Igreja Romana interpreta o “eros” como sendo a paixão pelo outro que move em direção ao outro, a atração pelo outro e, neste sentido, Deus teria demonstrado a Sua “paixão” pelo homem, buscando-o através do plano da salvação: “…Ele[Deus, observação nossa] ama, e este Seu amor pode ser qualificado sem dúvida como eros, que no entanto é totalmente agape também (…).Deus é absolutamente a fonte originária de todo o ser; mas este princípio criador de todas as coisas — o Logos, a razão primordial — é, ao mesmo tempo, um amante com toda a paixão de um verdadeiro amor. Deste modo, o eros é enobrecido ao máximo, mas simultaneamente tão purificado que se funde com a agape. Daqui podemos compreender por que a recepção do Cântico dos Cânticos no cânone da Sagrada Escritura tenha sido bem cedo explicada no sentido de que aqueles cânticos de amor, no fundo, descreviam a relação de Deus com o homem e do homem com Deus. E, assim, o referido livro tornou-se, tanto na literatura cristã como na judaica, uma fonte de conhecimento e de experiência mística em que se exprime a essência da fé bíblica: na verdade, existe uma unificação do homem com Deus — o sonho originário do homem —, mas esta unificação não é confundir-se, um afundar no oceano anônimo do Divino; é unidade que cria amor, na qual ambos — Deus e o homem — permanecem eles mesmos mas tornando-se plenamente uma coisa só: « Aquele, porém, que se une ao Senhor constitui, com Ele, um só espírito » — diz São Paulo (1 Cor 6, 17).…” (“Deus caritas est”, nn.9 e 10. Disponível em:

- Não tem sido esta a realidade de muitos que cristãos se dizem ser. Muitos não demonstram qualquer afeto natural, não revelam traço algum de compaixão, vivendo irados, nervosos e estressados, sem qualquer sensibilidade, pouco diferindo das verdadeiras “bestas-feras” que andam vagueando por este mundo desalmado. Em muitos casos, inclusive, são obreiros que não têm qualquer paciência de ouvir as pessoas, de tratar com elas de modo amoroso e sensível. Cumpre-se, neste passo, a palavra do profeta: “Porque os pastores se embruteceram e não buscaram ao Senhor; por isso, não prosperaram, e todos os seus gados se espalharam.”(Jr.10:21).

- Em nono lugar, o apóstolo Paulo diz-nos que o amor não suspeita mal (I Co.13:5), ou seja, quem ama não faz suposições maldosas contra o próximo, não é preconceituoso, não julga precipitadamente pela aparência, não se acha superior aos demais. Jesus determinou que não devemos julgar com base na aparência, mas de acordo com a reta justiça (Jo.7:24). O amor tudo crê (I Co.13:7), é crédulo, não é desconfiado nem tendencioso. Será que temos tratado as pessoas sem preconceitos, sem suspeitas, ou temos estado com nossos espíritos prevenidos, levando em conta tão somente a aparência do próximo, como se fôssemos juízes dos demais (Tg.4:12). Jesus nunca suspeitou os outros mal, a ponto de, mesmo sabendo que estava sendo traído, ter chamado Judas de amigo (Mt.26:50).

- A desconfiança, o “pé atrás” tem sido a tônica no comportamento de muitos, gerando um clima de falta de unidade que só tem contribuído para o prejuízo da obra do Senhor. Esta característica está muito vinculada à falta de benignidade. Como faltam benignos, ou seja, pessoas de boas intenções, todos se precavêm, a fim de que não venham a sofrer prejuízos em um relacionamento social. No mundo, esta desconfiança é o segredo do sucesso cada vez maior dos seguros, mas, nas igrejas locais, tem sido a maior causa dos fracassos e de uma série de conseqüências indesejáveis na obra do Senhor, pois isto nada mais é que falta de fé e sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).

OBS: Um dos grandes males da desconfiança tem sido a “hereditariedade” instalada nas lideranças das igrejas locais e que tem sido a fonte das maiores discórdias e distorções na condução da obra do Senhor.

- Em décimo lugar, é-nos dito que o amor não folga com a injustiça (I Co.13:6), ou seja, o amor não compactua com a injustiça, nem a admite ou tolera. Quem ama, não pratica a injustiça, pois o filho de Deus é um praticante da justiça (I Jo.3:10). Jesus, a quem devemos imitar, é justo (At.3:14). Somente quem pratica a justiça poderá habitar no tabernáculo do Senhor (Sl.15:1,2).Temos sido justos com nossos semelhantes? Temos dado a cada um o que é seu?

- A injustiça tem invadido as igrejas locais. O favoritismo, a perseguição e a acepção de pessoas é algo que tem contaminado os relacionamentos nas igrejas locais. Não é algo novo, pois, na igreja primitiva, em Jerusalém, já temos notícia destas coisas, seja no trato com as viúvas (At.6:1), seja no comportamento diferenciado dado aos ricos (Tg.2:1-13). Devemos, porém, lutar e combater para que assim não procedamos, tratando a todos igualmente, sem acepção, sendo, pois, justos, como é justo o nosso Senhor.

- Em décimo primeiro lugar, Paulo nos ensina que o amor folga com a verdade (I Co.13:6), isto é, o amor sempre opta pela verdade, jamais se manifesta através ou por intermédio da mentira ou do engano. Por isso, Deus, que é amor, também é verdade (Jr.10:10). Jesus, como Deus que é, também é a verdade (Jo.14:6). A Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e, por isso, quem ama tem prazer em obedecer aos mandamentos do Senhor. Aliás, permanecer no amor de Deus é obedecer a estes mandamentos (Jo.15:10). Temos falado a verdade? Temos desejado a verdade, ou temos nos enganado e enganado aos demais? Temos prazer e vontade em cumprir a Palavra de Deus, ou estamos a questioná-la? Quem ama, alegra-se com a prática da verdade.

- Como se tem mentido nas igrejas locais ultimamente. Muitos têm vivido à base de mentiras e de engano, o que os torna filhos do diabo, que é o pai da mentira (Jo.8:44). Quem ama e comete a mentira não entrará no reino de Deus (Ap.22:15) e muitos têm se esquecido desta palavra e construído uma convivência fundamentada na inverdade. Já existem os que defendem a “mentira santa”, a “mentira profissional” e, até mesmo, a “mentira compassiva”. Tudo isto, porém, é artimanha do inimigo, buscando tragar a muitos através da mentira. Tomemos cuidado porque quem tem amor não mente.

- Vendo, pois, todas estas características do amor, notamos como há falta de amor no mundo e, o que é mais grave, entre os que cristãos se dizem ser. Precisamos, para não sermos incluídos nos “quase todos” que terão seu amor esfriado por causa do aumento do pecado, manter uma vida de comunhão com Deus e, assim, pautarmos nossas ações pelo suportar do sofrimento, pela benignidade, pela ausência de inveja, pela ausência de leviandade, pela humildade, pela decência, pela busca dos interesses do próximo, pela tranqüilidade, pela ingenuidade, pela justiça e pela verdade. Se não nos conduzirmos assim, seremos mais um que não tem o amor de Deus, que não pertence a Jesus, mais um que está destinado à perdição eterna. “Jesus, preciso mais de amor, reino de Deus, em meu coração; de compaixão, Tu és o Senhor, de Ti preciso mais. De Ti preciso mais, do Teu amor veraz, sei que estás pronto pra me valer, de Ti preciso mais!” (1ª estrofe do hino 423 da Harpa Cristã).

Colaboração para o Portal escolaDominical: Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco

O amor verdadeiro

O amor verdadeiro
O verdadeiro amor brota de uma relação viva com Cristo
por Michelson Borges



Enquanto apresentava um estudo bíblico para um grupo de pessoas, um jovem fez uma declaração que me deixou pensativo: “Os adventistas são doutores em teologia, mas acho que ainda falta-lhes entender o real sentido do amor.”

Ao dirigir-me para casa, lembrei-me das palavras de outros irmãos (alguns hoje, infelizmente, são ex) que igualmente alegavam haver falta de amor na Igreja. Imediatamente fui à Bíblia e li o “salmo do amor” – I Coríntios 13 – em busca de uma resposta à pergunta: O que é esse amor que, dizem, falta-nos?

Pela enésima vez li aqueles 13 versículos tão profundos. Com muito cuidado pois, às vezes, corremos o risco de passar por alto conceitos importantíssimos pelo fato de já conhecer bem um texto. Algumas verdades se destacaram de imediato: (1) no verso 2 é dito que, ainda que possuamos qualquer dom espiritual, muito conhecimento científico e uma fé capaz de transportar montanhas, sem amor, de nada valem essas virtudes; (2) no verso 3, Paulo diz que, mesmo que distribuamos todos os nossos bens aos pobres e sejamos martirizados, sem amor, isso tudo de nada aproveita; (3) no final do capítulo, o Apóstolo termina dizendo que o amor é maior que a fé e a esperança.

No entanto, o que realmente me chamou a atenção foram os versos 4 a 7. Há muitas semelhanças entre eles e o fruto do Espírito de Gálatas 5:22. Vejamos:

I Coríntios 13 – O amor :
Gálatas 5:22 – O fruto do Espírito é:

é benigno
benignidade

não se porta inconvenientemente
domínio próprio

não busca os seus próprios interesses
bondade

não se irrita
longanimidade / mansidão

regozija-se na verdade
fidelidade

tudo suporta, tudo crê, tudo sofre, tudo espera
paz / domínio próprio




Tamanha coincidência não pode ser mera semelhança. O próprio amor é a virtude que encabeça a lista de Gálatas 5:22. E se o amor é um dos “gomos” do fruto do Espírito Santo, mesmo que nos esforcemos, jamais poderemos fabricá-lo. Não existem estratégias ou métodos que nos façam sentir amor pelos irmãos.

O amor provém do Espírito de Deus. Sem comunhão com Deus, portanto, não pode haver amor. O correto não seria dizer: “A Igreja precisa de mais amor.” Isso, na verdade, é óbvio. Nossa maior necessidade, no entanto, é da presença do Espírito Santo em nossa vida. De nada adianta uma adoração “animada” por palavras de ordem, ou barulho; assim como de nada adianta uma simpatia forçada de uns pelos outros, ao convite de “vamos apertar a mão de quem está ao nosso lado”. A alegria do louvor e a simpatia entre os irmãos só existirão na medida em que cada um buscar o Espírito de Deus.

Muitos abandonam a Igreja alegando falta de amor por parte dos irmãos. Outros dizem que a Igreja é muito “parada”, “desanimada”, “morna”. Não se daria o caso de haver falta do fruto do Espírito em suas vidas?

Após minha conversão, há quase vinte anos, percebi que nem tudo era perfeito (com exceção das doutrinas) na Igreja que eu amava e amo. Mas percebi, também, que o amor por Cristo e a convicção da verdade suplantam todo problema. Se amamos a Jesus e estamos convictos da verdade, nada, nem a alegada falta de amor, pode nos afastar de Sua Igreja (afinal, se assim o fizermos, para onde iremos?).

O amor e a alegria fazem parte do fruto do Espírito. Precisamos do Espírito Santo habitando o templo do nosso coração. Mas como fazer isso? O discípulo do amor nos dá a resposta. Em sua terceira carta, João refere-se a Gaio, exemplo de fidelidade e amor aos membros da Igreja, um homem que andava “na verdade” (verso 3). João menciona, também, Demétrio, de cuja vida a própria verdade dava testemunho (verso 12). Numa carta que trata da aplicação prática do cristianismo na vida individual, João associa o amor à verdade.

Isso é evidência inquestionável de que não pode haver amor na desobediência deliberada aos princípios bíblicos. Cristo mesmo disse: “Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos.” João 14:15. Veja: amor e obediência à verdade, uma vez mais, de mãos dadas. A verdade sem o amor é fria e formal, correta mas não cativante. O amor sem a verdade é mal orientado e desonesto. Por isso, “o mais forte argumento em favor do evangelho é um cristão que sabe amar e é amável”. – Ciência do Bom Viver, pág. 470.

Obediência mediante a comunhão com Cristo: eis o segredo. Mantendo uma relação viva com Jesus, tornâmo-nos participantes da natureza divina (I Pedro 1:4), o que nos dá a capacidade de sentir um amor puro e desinteressado pelos outros. “Caso exista no coração a divina harmonia da verdade e do amor, resplandecerá em palavras e ações.” – O Lar Adventista, pág. 426 (grifo acrescentado).

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram, isto proclamamos com respeito ao Verbo da vida.” I João 1:1. Neste texto, o verbo “contemplar” (Theomai) é diferente do verbo “ver” (Horao). Contemplar aqui significa uma experiência compenetrada para descobrir algo ou alguém. Portanto, precisamos contemplar a Cristo mais do que fazemos, para que o Espírito de Deus tome posse de nosso coração e transforme-nos a vida. Assim, “os pensamentos pecaminosos são afastados, renunciadas as más ações; o amor, a humildade, a paz tomam o lugar da ira, da inveja e da contenda. A alegria substitui a tristeza, e o semblante reflete a luz do Céu”. – O Desejado de Todas as Nações, pág. 173.

Esse é o segredo do verdadeiro amor.

Michelson Borges - Jornalista, redator da Casa Publicadora Brasileira e editor do site O amor verdadeiro